Essas coisas, logo aí embaixo... Palavras ditadas por um Ghost Writer.

22 de jun. de 2009

Diplomados deflorados

Eder Zucolotto

Estudante do 6º Semestre de Jornalismo


Na última quinta-feira os ministros do Supremo Tribunal Federal me tiraram o diploma de jornalista que ainda nem ganhei. Agora eu, um ateu convicto, sei como Deus, se é que ele existe, deve se sentir. Ninguém acredita mais na formação de jornalista. Um exemplo disso foi que assim que falei a meu pai do causo – pois ainda me nego a crer que é verdade o ocorrido - ele demorou alguns milissegundos pra perguntar se eu conseguia trocar de curso ainda pro próximo semestre.

Não o culpo pela preocupação com o meu futuro. Seis semestres de curso. è metade do camiho pra ir ou pra voltar. Estou no final do primeiro tempo de jogo e mudaram as regras do campeonato. E se os juizes são do supremo então a decisão é suprema. A cagada também é suprema.

Não sei ainda o que fazer. Sigo em frente no curso e o termino ou pego um atalho, tranco a faculdade e já saio no mercado de trabalho do jornalismo agora? Talvez quanto antes melhor, assim eu não passo pelas cadeiras que discutem a ética da profissão e todas aquelas teorias e práticas que no final das contas vão ser uma desvantagem competitiva. Afinal, debates sobre ética e consciência sobre a produção e o impacto das matérias vão me distrair com questões menores. Pior ainda: questões que podem reduzir o lucro.

Em meio aos meus questionamentos pessoais também tenho tempo pra ficar imaginando os pobres incautos que acabam de se formar e estão com um diploma na mão que não tem mais validade do ponto de vista de registro profissional. Caro colega – se é que ainda formamos uma classe - ainda não é hora de se desesperar. A esperança ainda não foi revogada pelo supremo. A vida é imprevisível (tão imprevisível como o funcionamento da cabeça de um juiz) e ainda podemos reaver a validade do diploma. Esse papel que, pelo menos no momento, só tem valor sentimental.

Enquanto esse dia não chega, tenho algumas dicas do que pode ser feito com o seu querido e inútil diploma de jornalismo. Pra você que, com todo orgulho, pendurou o seu diploma de jornalismo emoldurado num lindo quadro na parede da sala de estar, ainda há como tirar proveito dele. Pelo menos da moldura. Retire o seu diploma e o coloque naquela caixa de documentos esquecidos - como aquela conta de luz de 2003 que você ainda guarda, apesar de não se lembrar mais o porquê. Depois coloque uma foto na moldura e recoloque na parede. Pode ser aquela foto da sua mãe que a sua namorada pediu pra tirar da cabeceira da cama, pois não conseguia transar com a sogra a olhando (com aquele olhar maternal, ainda por cima). Sua mãe ficará muito feliz quando for lhe visitar e ver a posição de destaque que recebeu, ao invés daquele papel feio e sem sentido. Colocar a foto da sua progenitora no lugar do diploma é um grande acerto, afinal ha um risco muito pequeno que num futuro próximo os ministros do supremo declarem que a condição de mãe perdeu a validade no mundo contemporâneo.

Outra dica válida é aproveitar a lembrança das trocentas cadeiras de jornalismo que você cursou e fazer um lindo origami, com trocentas dobraduras. Sua sobrinha vai adorar o presente. Se você não tiver sobrinha, pode mandar o mimo pra Associação Brasileira dos Donos de Emissoras de Tv e Rádio. São pessoas que sabem apreciar um bom trabalho manual, principalmente se for feito por um amador (o que segundo a Associação dá mais mérito ao êxito). Apenas omita a informação que o artefato é produzido com um diploma do curso de jornalismo, pois eles têm verdadeira ojeriza a tal aberração acadêmica.

Dentre as opções há uma ótima forma de fazer um protesto velado: quando sair para a próxima pauta, leve o diploma e use o verso como bloco de anotações para sua matéria. Isso provará que o dito cujo, ou maldito cujo diploma de jornalismo, ainda tem utilidade jornalística.

E se você não tiver problemas com o politicamente coreto - mas que diabos, agora somos livres de qualquer responsabilidade com o público - pode, devidamente munido de um fumo em corda picado (ou algo similar), fumar seu diploma. Assim a comprovação de sua formação acadêmica se tornara tão etérea quanto a fumaça.

Uma última, drástica e anti-ecologica opção é usar o diploma para sua higienização após o uso do vaso sanitário. Uma alternativa, entretanto, não recomendada. Não pela afronta a formação acadêmica (se um Ministro do Supremo não nos ofende, não será eu, um Ministro do Inferior Tribunal de Mim Mesmo a ofendê-los), mas devido a gramatura do papel ser um tanto elevada para uma função tão delicada, e que pode agredir suas partes íntimas. E é bom não agredir essa região da sua anatomia, pois, mesmo que você não use a sua área anal de forma recreativa, fique sabendo que tem gente tentando usá-la ha muito tempo. Queriam muito nos ferrar. E finalmente conseguiram.
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Minuto de Sabedoria Cepacol

Você sabia que o sulfixo "ismo" é geralmente usado em tom jocoso, ou depreciativo?

(((Então já que vão acabar com a formação de jornalismo podemos criar o curso de juizismo.)))
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Eder Z
Cabra macho.
Ainda não diplomado,
mas já deflorado...
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